sábado, 23 de outubro de 2010


Com a colher pequena, mexeu todo o líquido que despejara minutos atrás dentro da xícara. Pôs muito açúcar e um pouco de água, pra não correr o risco de ter a garganta queimada. Levantou-a com muito cuidado e tomou o primeiro gole. Depois, adicionou mais algumas colheres de açúcar e, ao levantar a xícara novamente, avistou o pequeno garoto correndo pelo gramado verde e ainda molhado pela chuva caída durante a noite. Era um menininho loiro, com cabelos encaracolados e um olhar de preocupação constante, mas com um sorriso tão encantador, que tornava qualquer atividade magnífica. O pequeno parecia ter se cansado e sentou na relva com a roupa recém-comprada pela avó, uma mulher muito cuidadosa e um coração enorme, com seus quase 80 anos. Tirou do bolso um jogo de cartas que pegou emprestado do pai e espalhou no tapete verde. Começou a brincar, mas logo se cansou. O pai, de longe, viu o momento em que o seu príncipe se levantou e percebeu que seu calção estava sujo de lama e pensou que, talvez, aquela roupa seria doada para uma das muitas crianças que ele via todos os dias, no seu trajeto de ida e volta pro seu lar. O menino voltou a correr, dessa vez acompanhado de um cachorro de pelo claro e rabo grande. Seu progenitor caminhava pela sala com a xícara quente na mão e um olhar de orgulho. Postou-se na janela, levou a xícara aos lábios, tomou um gole do café gelado, deixou-a cair, e gritou.

quinta-feira, 3 de junho de 2010


Minha vida contigo só tem melhorado a cada dia que passa. Também tenho me esforçado para essa mudança bem-vinda. Tomei para mim, sem autorização de ninguém, exceto da minha consciência, uma frase de olhos azuis que diz que amanhã é sempre outro dia. Não vale a pena me prender a fatos e pessoas que não me fazem bem. Eu gosto do estrago (e lá vou eu me apossando das frases alheias), mas do estrago que me acalma, que me guia o olhar para onde, cego, eu não conseguia olhar, gosto do estrago que deixa meu cabelo bagunçado, que me deixa bobo, que carrega consigo a alegria dentro de um saquinho com um fundo sem fim e sempre me deixa grandes e generosas porções. O mundo me tem sido estranho, mas eu sempre acho o meu pedacinho em ti.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010


Também estou confuso. Não sei o que será da minha vida pelos próximos pares de anos. Tomei decisões que terão alguma (talvez quase nenhuma) importância no que vai ser da minha vida mais tarde. A vida, dentre as suas faces, tem a da surpresa. Nós nunca sabemos o que vai acontecer quando tomamos uma atitude, quando nos sai algo do fundo do coração, passando pela garganta, e, com auxílio da voz, é ouvido por outrem. Pode ser que venha o que nós esperamos, o que nós queremos, o que o nosso coração quer, e, (não) menos importante, o que nossa razão quer.
Se vem o que esperávamos, tudo bem, sem mais surpresas; o que queríamos, idem; mas, e quando o coração tem razão de tudo? Coração e razão...quanta complicação. Mas eu ainda prefiro seguir o que o meu coração manda, porque sou todo sentimento. Minha vida é banhada das mais controversas sensações possíveis. Algumas até ao mesmo instante, e eu consigo isto, sim. Às pessoas que se encontrarem em algum impasse, siga a razão do coração. Não necessariamente nessa ordem, não necessariamente.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010


Como dói não ouvir da pessoa a quem amamos as boas e confortantes palavras de carinho. Palavras antes trocadas a qualquer momento, carinho, antes sempre bem-vindas. E agora? Agora, têm as portas do meu coração abertas, pronto para recebê-las novamente. Não vou dizer que não me importo com o tempo que possa demorar até ouvi-las novamente. Me importo, sim, porque o tempo machuca. No entanto, sara também, cura as mais profundas feridas, muitas vezes sem deixar marcas. Me importo, sim, em lutar para conseguir de volta o que eu levei à quase ruína total, para ter de volta o teu amor e a tua confiança e o teu carinho e o teu olhar marcante e profundo, que dispensa qualquer sílaba, me diz tudo. Palavras não são importantes, costumam ser traiçoeiras. Mas eu as uso. Uso porque, fazendo bom uso, elas estão ao meu favor. Estão do lado de todos que as usam para falar com o coração. O meu que está em pedaços. No canto do quarto, no meio da cama, debaixo do travesseiro, na água que tomo, por entre as páginas dos livros, eu encontro um pedaço dele; apanho; colo; colo com uma cola tão forte...colo. Nossos corações se refazem de um baque profundo e intenso. Eu acredito. Acredito em mim, acredito em você, acredito em nós. Acredito no amor.

domingo, 31 de janeiro de 2010


"E você, por que tá chorando?", foi o que ouviu ao abrir os olhos, na cinzenta manhã de um dia que era pra ser repleto única e exclusivamente de sorrisos. Lágrima, se existisse, que fosse de alegria. Ele não soube o que responder, fechou os olhos e voltou pro seu mundo de pensamentos embaralhados e camuflados das mais diversas formas. Pensou em tudo o que viveu, perguntou-se se tudo aquilo valeu a pena, ou se foi uma aventura vã. Abriu o guarda-roupas e tirou o velho (não tão velho assim) álbum de fotos. Fotos eternizadas nos mais felizes momentos, de sorrisos contagiantes e escancarados. Passou foto por foto, e, ao fazê-lo, materializaram-se diante dos seus olhos todos aqueles minutos, antes, durante e depois da foto. Um filme (romance-comédia-drama-suspense) poderia ter sido feito só com aqueles pedaços de papel e um pouco de sua imaginação. Guardava dentro do álbum de fotos um lenço, porque, ao abri-lo, sempre descia no seu rosto uma lágrima. Pegou o lenço, sentiu o cheiro e enxugou a lágrima. Repetiu para si mesmo, e para quem quisesse ouvir, que era aquilo que ele queria, daquele jeito, melhorando pra melhor sempre, sempre. Ele acreditava em amor para sempre...