sábado, 23 de outubro de 2010


Com a colher pequena, mexeu todo o líquido que despejara minutos atrás dentro da xícara. Pôs muito açúcar e um pouco de água, pra não correr o risco de ter a garganta queimada. Levantou-a com muito cuidado e tomou o primeiro gole. Depois, adicionou mais algumas colheres de açúcar e, ao levantar a xícara novamente, avistou o pequeno garoto correndo pelo gramado verde e ainda molhado pela chuva caída durante a noite. Era um menininho loiro, com cabelos encaracolados e um olhar de preocupação constante, mas com um sorriso tão encantador, que tornava qualquer atividade magnífica. O pequeno parecia ter se cansado e sentou na relva com a roupa recém-comprada pela avó, uma mulher muito cuidadosa e um coração enorme, com seus quase 80 anos. Tirou do bolso um jogo de cartas que pegou emprestado do pai e espalhou no tapete verde. Começou a brincar, mas logo se cansou. O pai, de longe, viu o momento em que o seu príncipe se levantou e percebeu que seu calção estava sujo de lama e pensou que, talvez, aquela roupa seria doada para uma das muitas crianças que ele via todos os dias, no seu trajeto de ida e volta pro seu lar. O menino voltou a correr, dessa vez acompanhado de um cachorro de pelo claro e rabo grande. Seu progenitor caminhava pela sala com a xícara quente na mão e um olhar de orgulho. Postou-se na janela, levou a xícara aos lábios, tomou um gole do café gelado, deixou-a cair, e gritou.

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